Cheguei há dois anos a Timor! Depois de um ano em Bazartete, na montanha, vivo agora em Díli desde Janeiro. A cidade é uma realidade muito diferente! Como em todos os países tem o atrativo das cidades, horizontes e oportunidades novas, mas também os vícios de sempre e o acesso àquilo que muitas vezes chamamos “civilização”, “desenvolvimento” e pode estragar um bocadinho a vida, a cultura e as tradições de um povo.

Em Díli temos duas casas, uma ao lado da outra. Na primeira e mais antiga, vivo eu com a Mónica, uma irmã japonesa que está em timor há 12 anos. Esta casa dá apoio a uma residência para 18 raparigas, vindas dos distritos, que querem continuar os seu estudos na escola secundaria ou na universidade. A maioria das raparigas em Timor, abandonam cedo a escola e ficam em casa onde têm sempre muito trabalho – lavar, cozinhar, tratar da horta e das crianças pequenas, etc.; ou então casam e vão viver com a família do marido e a situação, às vezes, ainda é mais dura.

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Estou responsável por esta missão. Além da formação e do acompanhamento que lhes podemos dar, as raparigas têm tempo e um lugar para estudar e o convívio com outras companheiras da sua idade.

Na casa ao lado, vivem outras duas irmãs professas – a Inês (espanhola) e a Lúmen (filipina) – e as irmãs em formação – as Junioras e também as Aspirantes (todas timorenses). É o futuro do Instituto em Timor! Viver numa comunidade internacional alarga horizontes e abre-nos às diferenças!

A nossa comunidade está inserida num bairro grande, muito pobre e a nossa missão, através do “Centro de Formação Sta Rafaela Mª” é acompanhar as famílias, as crianças e os jovens que aqui vivem. As atividades são variadas: apoio escolar às crianças do 1º ao 6ºano, visitas às famílias, levar a comunhão, adoração na capela do bairro, aulas de japonês e inglês, cursos de computador, retiros para jovens, encontros de formação, etc… Criou-se um espaço onde os jovens da família ACI podem reunir, programar atividades, aprender viola, etc. Uma das atividades em que estão envolvidos foi a recuperação de um terreno que transformaram em horta e podem agora vender os produtos e angariar fundos para as atividades.

Este ano, estou também a colaborar no Colégio dos Jesuítas em Kasait nos arredores de Díli. Dou aulas de religião às turmas do 9ºano e colaboro na pastoral do Colégio. A minha grande dificuldade continua a ser o tétum! Falar e, principalmente, compreender o que dizem! Mas a colaboração no campo da educação e o trabalho com crianças e jovens é fundamental em Timor, onde cerca de 50% da população tem menos de 25 anos!

Para mim continua a ser tempo de aprender e agradecer! E agradeço a simplicidade, a proximidade (toda a gente diz bom dia e boa tarde!), as crianças, o mar, a montanha, a capacidade de ir em frente apesar das dificuldades… Aprendo a sabedoria do tempo e a paciência! E é mesmo uma graça, porque assim deixamos Deus marcar o ritmo! É acompanhar um país a crescer com muitas pobrezas mas também grandes riquezas! A minha missão aqui, mais do que fazer coisas é estar, acompanhar, conhecer… é uma cultura e uma maneira de viver tão diferente da nossa, que precisamos de tempo para ir entrando, aprendendo, criando relação …e, assim, podermos fazer caminho juntos.

Ania Ramirez, aci