Há 16 anos atrás, 1999, quase parecía impossível que eu viesse viver para esta Ilha situada do outro lado do Atlântico, duplamente isolada, de cuja vida tão pouco se conhecia!
Hoje, depois de oito anos vivendo em Cuba, sinto que faço parte desta realidade à qual Deus me trouxe por meio do Instituto. Uma realidade que é complexa e dolorosa e que requer que a ames, se queres permanecer nela porque Deus-connosco te seduz a encarnarte mais e mais padecendo na propria pele os padecimentos de quem nasceu cubano. “De tanto amar el lirio se hace uno lirio también” (Dulce María Loynaz, La Habana 1902-1997).
A Igreja Católica é minoritaria e a nossa capacidade de acção em ordem à missão está limitada pelas autoridades civis. Os sacerdotes e os religiosos são minoritariamente cubanos y maioritariamente missionários estrangeiros. Neste contexto, a Vida Religiosa em Cuba entende-se a si mesma desde a espiritualidade do que é germinal, à semelhança do grão de trigo que é pequeno e que para dar fruto deve cair na terra e morrer (cfr. Jo 12,24).
Desde o início deste ano lectivo (2015-2016) somos uma comunidade de quatro Irmãs:a Ana (espanhola), a Beatriz (chilena), a Lucía (espanhola que viveu vinte e cinco anos no Equador) e eu (portuguesa). Nos dois anos anteriores disfrutamos da presença da Tita Pedroso (portuguesa) e da Sandra Pinto (chilena) durante um ano cada uma, e no verão contámos com quatro Irmãs que vieram reforçar a comunidade: Teresa Gallo (argentina), Carina Barcia (ecuatoriana) e Encarna González e Elena Cervera (espanholas). Somos uma comunidade internacional!
Actualmente temos duas presenças: uma em Caibarién (cidade costeira, situada a norte da provincia central de Santa Clara) y a outra na cidade de Santa Clara (capital de provincia e de diocese). Parte da semana a Ana e eu vivemos em Santa Clara e no fim-de-semana encontramo-nos com as outras Irmãs em Caibarién.
A nossa actividade pastoral desenvolve-se em colaboração com a paróquia e a diocese. Desde aqui, o nosso carisma reparador e a nossa missão de promover a educação evangelizadora encontram muito terreno onde deitar raízes.
Acompanhamos grupos de catequese de infância, de adolescentes, de jovens e de formação de adultos (bastantes pessoas se preparam para os sacramentos da iniciação). Uma das Irmãs coordena o grupo de Cáritas e o de Pastoral da Saúde. Temos um pequeno projecto de informática que funciona na sala de entrada de nossa casa. Duas Irmãs animam as comunidades de duas capelas da paróquia. Eu vou estabelecendo relações com o Sectorial de Cultura do Poder Popular em Caibarién e vamos organizando algumas actividades em conjunto, nomeadamente durante a Semana da Cultura Cubana.
Três de nós temos responsabilidades de coordenação a nível diocesano: Comissões de Catequese, Pastoral de Adolescentes y Pastoral Juvenil; Centro Diocesano de Formação; coordenação pastoral de uma das vigararías da diocese. Uma Irmã participa e apoia a Equipa Diocesana de Missões.
Este ano, com a segunda presença, começámos a apoiar uma capela que está em vias de se tornar paróquia. O sacerdote, além da capela, atende seis Casas de Missão e tem mais quatro em perspectiva pois há bastante território onde não há presença da Igreja. As Casas de Missão funcionam em zonas pastorais onde não há proximidade de um Templo (igreja). Como há muita dificuldade de transporte, as pessoas não se podem deslocar para participar na vida da Comunidade. Por isso há pessoas cristãs que disponibilizam a sua casa para que haja catequeses, celebração da Eucaristía e administração de sacramentos. Normalmente são casas pequenas e muito simples.
Há uma de que gosto particularmente: a dona da casa chama-se Bárbara e por isso a comunidade está sob o patronato de Santa Bárbara. A sala da casa é tão pequena que a missa se celebra com as pessoas sentadas durante todo o tempo porque não há espaço nem para um alfinete. Cada semana aparece uma pessoa nova e na semana passada havia pessoas sentadas na cozinha que também é pequena. Da sala para a cozinha não há porta e por isso durante a celebração vê-se a janela com uma árvore de mango e o fogão, onde há sempre uma cafeteira de café. As pessoas vão chegando e vão-se sentando, porque não há espaço, e a dona da casa entre risos e comentários vai distribuindo uma chávena de café. O ambiente é de festa e encontro. Eu entro a correr na casa, cumprimento, tomo o cafezinho e saio para outra casa onde me reúno com um grupo de cinco adolescentes e uma jovem. A dona desta casa é a mãe de uma das adolescentes. A sala onde nos reunimos é mínima: os joelhos uns dos outros tocam-se quando estamos sentados. A dona da casa contava-me que a única vez que o pai dela, que era comunista, lhe tinha ralhado seriamente, foi quando ela era miúda e esteve à porta de uma igreja para entrar. E que, por isso, lhe custava participar na vida da Igreja. Creio que pela alegria contagiante que se vive, porque o sacerdote é muito próximo e carinhoso com as pessoas e porque Deus vai fazendo o seu caminho no coração de cada um, começou a participar na celebração da Eucaristia e na preparação para receber o batismo.
No final deste ano lectivo teremos a celebração das JMJ en Havana, em sintonía com as JMJ em Cracóvia. Será um encontro de três dias em que participará uma delegação de jovens de cada una das dioceses da Ilha. É a segunda vez que levamos a cabo uma iniciativa deste tipo. Por cá os jovens não têm possibilidade de juntar o dinheiro necessário para pagar a sua inscrição e a viajem, pelo que a Igreja cubana, que é uma Igreja pobre e que vive de projectos, dá a possibilidade de que apenas um ou dois jovens de cada diocese vão ao encontro mundial. E os outros? Celebramo-las aqui! No entanto é todo um desafio à imaginação e à colaboração preparar esta celebração porque os gastos são elevados e o orçamento curto.
Viver em Cuba é um presente de Deus que agradeço ao Instituto!
Viver em Cuba é uma oportunidade de tocar a Vida por dentro e de aí perceber Deus!
Maria Eduarda Barata, aci