O Senhor enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. Disse-lhes: Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias; e não vos detenhais a saudar ninguém pelo caminho. Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’
Lc 10, 1-5
Há quase 20 anos que, na Páscoa e durante o verão, um grupo de jovens e irmãs têm o privilégio de visitar Cachopo e os montes desta freguesia muito marcada pelo isolamento, pela solidão e pela escassez de meios. Este ano, por causa da pandemia, a nossa missão teve que ser adaptada: de 1 a 7 de agosto, um grupo constituído apenas por irmãs Escravas recebeu a missão de visitar as pessoas deste ‘outro Algarve’. Apesar de termos partido por um período de tempo mais curto e de sermos um grupo mais pequeno que o habitual, Cachopo abriu as suas portas e nós recebemos o ‘presente’ de descobrir, uma vez mais, a Vida com ‘sabor’ a Evangelho que se encontra por detrás de cada porta! É essa Vida com sabor a Boa Notícia que queremos partilhar ao escrever estas linhas.
Evangelho vivido em Cachopo II – “Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fracção do pão e às orações.” (Act 2, 42)
A nossa comunidade era constituída por 5 irmãs, em diferentes etapas da formação. À semelhança do que vemos Jesus fazer com os seus discípulos – celebrar com os seus amigos, retirar-se para rezar, servir ou conversar com quem vai encontrando, parar para comer ou descansar – assim tentámos também nós viver durante estes dias.
Logo quando chegámos, tivemos a Celebração da Palavra com a comunidade presente na Igreja de Sto. Estevão.
Todas as manhãs tínhamos um tempo de oração pessoal e à tarde um tempo de adoração de portas abertas onde agradecíamos e confiávamos ao Senhor todas as pessoas que tínhamos encontrado durante o dia.
Para a missão no Lar ou as visitas casa a casa, dividíamo-nos em grupos de 2 ou 3 irmãs para podermos chegar a mais lugares.
Já de noite, juntávamo-nos para o convívio e cantorias com as pessoas de Cachopo.
A rotina era assim, marcada pela oração, a missão e os tempos para “construir comunidade”. Obrigada Senhor por nos mostrares o horizonte para o qual devem tender as nossas comunidades e trabalhos! Pelo dom da paz e da alegria recebidos e que queremos partilhar com todos!

O Evangelho vivido em Cachopo III – “Depois disse-lhes: ‘Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus. Aquele, portanto, que se tornar pequenino como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus’.” (Mt 18, 1-4)
Em Cachopo a vida é vivida com muita simplicidade, essa simplicidade tão característica das crianças. É assim que imaginamos a forma de ser e estar de Jesus, a sua forma de trazer a Boa Notícia ao nosso mundo. E foi assim que a Boa Notícia chegou até nós em Cachopo!
Porque as pessoas com quem nos encontrámos todos os dias viviam de uma forma muito simples, nós pudemos receber de Jesus a Boa Notícia da Vida simples.
Porque cada pessoa era como era, sem pretensões de ser outra coisa, nós pudemos receber de Jesus a Boa Notícia da Vida autêntica prometida e oferecida por Ele.
Porque as pessoas estavam abertas, e acolhiam tudo o que Deus oferece – os frutos da terra, as alegrias e os sofrimentos, a história das suas vidas tal como é… e até a visita de cinco “estranhas” que lhes vinham bater à porta, só para uns dedos de conversa! -, nós pudemos receber de Jesus a Boa Notícia da Vida aberta, da hospitalidade.
Viver com simplicidade, ser com simplicidade, acolher com simplicidade: quantos dons recebidos para agradecer e pôr a render! Sentimos que todos estes dons que recebemos expressam a generosidade imensa da gente de Cachopo. E encontrar a generosidade que habita cada pessoa, deixa em nós o desejo de ser mais generosas. Uma generosidade que mais do que gestos, é um modo de viver: viver de portas abertas e partilhar o que somos e temos com os irmãos.

O Evangelho vivido em Cachopo IV – “Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e seu irmão João, e levou-os, só a eles, a um alto monte. Transfigurou-se diante deles: o seu rosto resplandeceu como o Sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. ” Mt, 17, 1-2
O nosso último dia em Cachopo coincidiu com a festa da Transfiguração do Senhor, dia em que Jesus revelou a três dos Seus discípulos, de forma mais íntima e profunda, a Sua natureza. Também nós reconhecemos como naqueles dias, Jesus nos foi revelando mais sobre Si, sobre o Seu modo e sobre a Sua presença na vida de cada um. Constantemente relembrávamos – nos encontros que tivemos, na forma como fomos recebidas, na alegria das coisas simples, na gratidão pelas coisas pequenas – as passagens do Evangelho em que Jesus ensinava aos discípulos a Sua lógica e a Sua forma de Amar. Jesus, pela vida de Cachopo, transfigurou-Se diante de nós.
