Irene Guia, aci
11.10.2019
https://pontosj.pt/opiniao/o-povo-cujo-fiel-amigo-sao-as-montanhas/
Sou amiga do povo que só confia nas montanhas, e com razão! Sou amiga dos curdos e da causa
Nestas últimas semanas, acompanhámos, com horror, perplexidade e espanto, a inesperada retirada do apoio militar dos EUA ao povo curdo no nordeste da Síria, permitindo a operação militar turca que já gerou mortes inocentes e milhares de deslocados e refugiados.
Ouvimos e assistimos à facilidade com que Trump deixou cair um povo, que era seu aliado há inúmeros anos, sem qualquer tipo de pudor ou remordimento de consciência. Uma aliança que é responsável não só por desmantelar o Estado Islâmico na Síria e no Iraque, mas também pela defesa incondicional e permanente do Curdistão iraquiano, território que permaneceu impenetrável e que acolheu os milhares de refugiados sírios e de deslocados iraquianos (muçulmanos, cristãos e yazidi) que fugiram amedrontados do pesadelo do DAESH no verão de 2014.
Ao longo desta guerra contra o Estado Islâmico, morreram onze mil pershmerga (militares curdos). Não foram só homens. Centenas de mulheres curdas também se juntaram às fileiras, quiseram aprender a usar as armas e tornaram-se pershmerga quando foi preciso dar tudo para defender corajosamente aquilo a que chamam lar, impedindo a entrada dos ‘monstros’ do DAESH nas suas terras.
Conseguiram! O DAESH foi incapaz de se estabelecer em território curdo. O mesmo não o poderão dizer as autoridades e as forças iraquianas e sírias que, com um muito maior poder militar que os pershmerga, foram incapazes de deter a presença do autoproclamado califado dentro das suas fronteiras e territórios, permitindo que o inferno tivesse ali morada.
Combater o DAESH, desmantelá-lo tem impacto direto na segurança do resto do mundo. Esta vitória não pode ser entendida nem ficar circunscrita à sua derrota nos territórios iraquianos ou sírios. Foi este o povo que, no terreno, tornou esta vitória possível, numa batalha que se fez centímetro a centímetro, ruela em ruela, casa a casa. Sem drones nem bombas teleguiadas que os substituíssem.